Mercado Negro traz-nos Portugal, dos tempos modernos, aqui para bem perto. O conceito deste restaurante fascina qualquer um. Desde a decoração aos pratos apresentados. Tudo pensado ao mais ínfimo pormenor.
Carlos veio de Aveiro com apenas seis meses de idade e a esposa, Luísa, é da Mealhada, Coimbra. Com eles trouxeram o gosto pelo que sabe bem – apostaram na restauração e decidiram que, desta vez, St. Clair tinha que receber um espaço português diferente. Carlos passou a maior parte da sua vida a trabalhar em restaurantes na comunidade portuguesa. “Eu sempre defendi as minhas origens. A nossa vida foi construída na comunidade portuguesa – eles sempre foram meus clientes, são essas as pessoas que eu servi. Eles são o meu povo. Para mim, era importante continuar a ser português – a ser ainda mais português.”
A determinação de Carlos em permanecer ligado às suas raízes, acrescentando um lado que ainda não estava a ser explorado por terras canadianas, fez com que o sucesso das ideias fosse uma realidade.
Depois de umas férias em Havana, Cuba, a atenção para comidas, e formas de saborear o que de melhor uma cozinha tem para oferecer, começou a ser outra. Tapas foi a vontade que se destacou.
“Nós começámos a gostar muito da ideia das tapas, porque essa é uma excelente forma de manter todos juntos à mesa. Sem telefones. As pessoas vão
provando as porções umas das outras e conversando. Esse conceito fez-nos pensar, porque nós gostamos de cozinhar e eu estava cansado do que fazia. Este foi um daqueles momentos em que o “destino conspirou.” – conta-nos Carlos, sobre este “fado” que Portugal (e Havana) lhe trouxe e que tão bem está a ser recebido por todos os que pelo Mercado Negro passam.
“Nós tínhamos ido a Portugal e estes pequenos lugares, com tapas, estavam a abrir por toda a parte – pequenos, muito vintage e caseiros, e eu senti-me conectado. Aqui em Toronto estava a achar que acontecia precisamente o contrário, havia uma desconexão – nenhuma música portuguesa interessante, nada que nos aconchegasse a alma. Eu queria criar algo que recebesse as pessoas de forma aconchegante e que, de alguma forma, se sentissem conectadas.”
A verdade é que as paredes, os candeeiros, os pratos, o serviço, a comida… Tudo nos faz sentir assim mesmo: aconchegados. Em casa.
“A nossa clientela é diferente – muito jovem e divertida, as pessoas ficam mais tempo. O que significa que estamos a conseguir atingir os nossos objetivos. Todos os que nos visitam sentem-se confortáveis e aproveitam o momento”, partilha Carlos.
O Chef Filipe, da ilha da Madeira, trabalhou seis anos no conhecido Chiado, onde começou por lavar loiça, mas também onde rapidamente percebeu que queria mesmo era aprender a cozinhar. O Mercado Negro é o reflexo de um trabalho em grupo, e percebe-se pela forma como também o Chef encara a sua profissão – “Eu sou exigente e peculiar, por isso tento cozinhar como se fosse eu a saborear o prato”.
Toda esta aposta na diferença e na proximidade com o que é português, mas atual, se consegue perceber até nos pequenos pormenores. Como os frascos com feijões expostos no balcão, ligando-nos aos mercados antigos portugueses. Mas ali nada é escolhido por acaso. Muito menos o nome do restaurante. Em Aveiro há um espaço multifuncional que se chama Mercado Negro – muito popular e apreciado por todos. Aqui, em Toronto, o nosso Mercado Negro carrega o poder de um nome que deixa muitos chocados e outros tantos curiosos – porque ao mesmo tempo que nos remete para um tempo de escravidão, de culpa ou de frustração, também nos transporta para a possibilidade de acesso a coisas que, por norma, não são assim tão fáceis de obter.
Aqui, há uma espécie de ponto de encontro perfeito entre a tradição e a modernidade, com andorinhas na parede que nos fazem querer voltar. Talvez o segredo esteja na constante reinvenção dos pratos, dos sabores, dos conceitos. Porque aqui, neste Mercado Negro, a vontade de servir, e servir bem e diferente, é a alma “clara” do negócio.
Mercado Negro
1370 St Clair Ave W, Toronto
@mercadonegro.to
Morcela with pineapple
INGREDIENTS
- 1 Morcela sausage
- Olive oil (for frying)
- Pineapple
- Port wine
- Salt & pepper
- Fresh chili peppers
- Honey
- Parsley
DIRECTIONS
- Cut Morcela into bitesize pieces.
- Heat olive oil in frying pan and sauté the sausage.
- Season with salt, fresh chili peppers and black pepper.
- Add pineapple and port wine and allow the liquid to reduce.
- Finish with a touch of honey and chopped parsley.
Cured sardines with black olive pâté
INGREDIENTS
- Sardines
- Parsley
- Olive Oil
- Salt & pepper
- Lemon juice
- Brandy
- Corn bread toast
- Black olive pâté
- Pickled fennel
- Fresh fennel
DIRECTIONS
- Fillet the sardines.
- Season with black pepper, parsley and olive oil.
- Cure sardines for 30 minutes with a a mixture of sugar, salt, lemon juice and brandy.
- Blowtorch the skin; do this quickly so as not to overcook the fish.
- Spread the Black olive paté on the corn bread toast.
- Add the cured sardines.
- Top with pickled fennel.
- Garnish with fresh fennel.
Ninho d’alheira
INGREDIENTS
- 1 Alheira sausage
- Salt
- Fresh chili peppers
- Rapini (broccoli rabe)
- Shoe string fries
- 1 sunny side up egg
DIRECTIONS
- Remove alheira from casing and sauté.
- Season with salt and fresh chilis.
- Add rapini and fries.
- Plate dish.
- Top with sunny side up egg.
WORDS: CATARINA BALÇA
PHOTOS: NOAH GANHÃO